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Dor e amor: por que é tão difícil deixar ir?

  • Foto do escritor: Selma Rodrìgues
    Selma Rodrìgues
  • 31 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 19 de mar.

Você sente a dor. Sabe que ela está ali, incomodando, pesando nos ombros, apertando o peito. Mas, mesmo assim, continua. Tenta consertar, tenta entender, tenta mudar algo que, no fundo, talvez nem tenha solução.


Por que insistimos em relações que nos fazem sofrer? Se todo mundo à sua volta diz que aquilo não te faz bem, que está na hora de ir embora, por que é tão difícil tomar essa decisão?



Fig. 1 Colagem artística por Selma Rodrigues Soares

 

Talvez você já tenha perdido noites de sono pensando nisso. Talvez tenha se convencido, em algum momento, de que não há mais esperança, mas, ainda assim, a ideia de partir traz um vazio insuportável. O medo chega como uma enxurrada: E se eu nunca mais encontrar alguém?, E se eu me arrepender?, E se eu não souber viver sem essa relação?.


Na teoria, parece simples: se um relacionamento nos machuca mais do que nos faz bem, o certo seria ir embora. Mas a prática... bem, a prática é outra história. O que nos prende tanto a um amor que dói? Vamos explorar isso juntos.


1. O mito do amor que precisa doer


Desde pequenos, crescemos ouvindo histórias que romantizam o sofrimento no amor. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, os contos de fadas onde a princesa sofre antes de encontrar seu final feliz. A cultura nos ensinou que o amor verdadeiro exige dor, sacrifício, superação.


E, assim, muitos de nós aprendemos a aceitar a dor como parte inevitável do amor. Mas será que precisa ser assim? Até que ponto o sofrimento faz parte do crescimento e quando ele se torna um sinal de que algo está errado?

Se um relacionamento exige que você abra mão de si mesmo, se a dor se tornou maior que o afeto, talvez seja hora de se perguntar: isso é realmente amor ou apenas um padrão que me ensinaram a seguir?


Fig. 2 Imagem criada por IA Copilot Casal triste após discussão


2. O medo de estar só


Estar sozinho pode assustar. E isso tem raízes profundas.


Donald Winnicott, um dos grandes nomes da psicanálise, dizia que a capacidade de ficar só se desenvolve quando aprendemos a nos sentir seguros mesmo na presença de outras pessoas. Ou seja, não é sobre estar cercado ou não de gente, mas sobre sentir-se inteiro, mesmo quando não há ninguém ao redor.


Se a solidão nos apavora, muitas vezes é porque, em algum momento, aprendemos que estar acompanhado nos define. Que a nossa validação vem do outro. Mas será que precisamos mesmo de um relacionamento para nos sentirmos completos?


3. A pressão para não desistir


A sociedade nos empurra a ideia de que relacionamentos são o ápice da realização.


Casais felizes são exaltados. Solteiros são vistos com pena ou estranheza. Essa pressão pode nos fazer permanecer em relações que já não fazem sentido, apenas para não lidarmos com o julgamento alheio.


Mas ninguém vive sua vida por você. No fim do dia, quem sente a dor, a dúvida e o vazio é você. Então, quem deveria ter o direito de decidir o que é melhor para sua felicidade?


4. Repetimos o que aprendemos


Se crescemos vendo relacionamentos disfuncionais, tendemos a normalizar o sofrimento. A infância é a base de como aprendemos a amar. Se os primeiros vínculos foram marcados por instabilidade, ausência ou mesmo abuso emocional, há grandes chances de que busquemos inconscientemente algo familiar, ainda que doloroso.

Mas padrões podem ser quebrados. Com consciência e, muitas vezes, com apoio terapêutico, podemos reconstruir nossa visão sobre o amor e nos permitir viver algo mais saudável.


5. A autoestima e a armadilha do "não mereço mais do que isso"


Quando nossa autoestima está abalada, aceitamos menos do que merecemos. Nos convencemos de que não somos bons o suficiente, de que o problema somos nós. Passamos a justificar abusos, silenciar nossos desejos, nos moldar ao outro até nos perdermos completamente.


Mas o amor não deveria ser um lugar onde nos diminuímos para caber. Se um relacionamento enfraquece quem você é, talvez não seja amor — ou, pelo menos, não o tipo de amor que vale a pena manter.


Então... como sair disso?


Romper com um relacionamento que machuca não é só sobre dar um ponto final. É um processo. Envolve medo, luto, reconstrução. Mas também pode ser um recomeço.

Terapia pode ajudar. Autoconhecimento pode ajudar. Cercar-se de pessoas que realmente te querem bem pode ajudar. E, acima de tudo, acreditar que você merece um amor que te faça bem — seja ele com outra pessoa ou, antes de tudo, consigo mesmo.


Não há respostas prontas. Mas há caminhos. E, às vezes, o primeiro passo é apenas se perguntar: se essa relação fosse um livro, eu estaria feliz com o final?


Fig. 3 Imagem de Jill Wellington porPixabay

 

REFERÊNCIA:

 

SOPHIA, E. C., TAVARES, H., & ZILBERMAN, M. L. Amor patológico: Um novo transtorno psiquiátrico? Rev. Bras. Psiquiatr., 29(1), 2007. 

 

ZAMBONI, MARCELA. (2010). Quem acreditou no amor, no sorriso, na flor: a confiança nas

relações amorosas. São Paulo: Annablume, João Pessoa, UFPB,  2010.

 

BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003.   

 

FERREIRA-SANTOS E. Ciúme, o medo da perda. São Paulo: Editora Ática; 1998.

 

NORWOOD, ROBIN. Mulheres que amam demais. São Paulo: Saraiva, 2010.

 

WINNICOTT, D. W. (1958) A Capacidade de Estar Só. In: Winnicott, (1979) O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983, pp.31-37.



 
 
 

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